OLIVA CREATIVE FACTORY: O TESOURO DE UM SAPATEIRO

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Escrito por: Ana Marta Ferreira
Revisto por: Inês Cardoso
Fotografias por: Ana Marta Ferreira 

Damien Hirst - The Hours Spin Skull, 2008
    

              De São João da Madeira, Norlinda e o seu marido, José Lima, empresário da indústria do calçado que se intitula como “um sapateiro”, têm um hobbie com mais de 33 anos: comprar obras de arte. Têm mais de 1000 peças e primeira exposição apenas mostra ao público um quinto da coleção. 
              “Traço Descontínuo: Coleção Norlinda e José Lima – Uma Seleção” é o nome da exposição aberta ao público desde outubro, de terça a sábado com entrada a 4 euros e gratuitamente aos domingos, sempre das 10h às 18h, na Oliva Creative Factory, em São João da Madeira. 
                A rica e diversificada “seleção” do casal exposta ao público inclui obras de – imagine-se – Malangatana, Paula Rego, Andy Warhol, Vieira da Silva, Arpad Szenes e Damien Hirst, entre muitos outros. O colecionador não interferiu na escolha efetiva das peças a exibir nem na sua disposição no amplo espaço da antiga zona de fabricos gerais da metalúrgica Oliva. Esse foi o trabalho do comissário Miguel Amado, que diz que o colecionador está simplesmente “feliz por concretizar uma vontade”. 
               José Lima tem 73 anos e continua a comprar obras um pouco por todo o mundo. “Sou um sapateiro, faço sapatos, comecei com 11 anos”. Apresenta-se assim, mas na verdade é um empresário da indústria, dono de uma fábrica que emprega 70 trabalhadores e que exporta o que produz. Começou por ler sobre arte e visitar museus portugueses, mas a paixão instalou-se e assim, já conhece os mais importantes museus da Europa e do mundo. Sabe o que compra. Tinha perto de 600 obras em casa quando começou a pensar na possibilidade de montar uma exposição. Quando chegou às mil peças, o casal cedeu a colecção à Câmara de São João da Madeira, em regime de comodato, por 12 anos. 
                “Traço Descontínuo” estará em exposição até finais de maio de 2014. Depois de maio seguir-se-á uma exposição centrada no surrealismo, onde Cesariny terá lugar marcado. José Lima não divulga quanto gastou, mas garante que não faz investimentos – “Investimento pressupõe que compro por um preço para vender por outro e eu não vendo, apenas compro.” Esperou dez anos por comprar o quadro de título desconhecido de Paula Rego que tem lugar de destaque na exposição e o de Andy Warhol, por exemplo, comprou num leilão em Londres. 
                 A visita não tem percurso definido, o espaço tem várias áreas distintas que acompanham a diversidade de estilos, assinaturas e épocas das obras de arte. Assim, em Portugal nasce uma nova galeria de arte, com a honra de acolher algumas obras de alguns dos artistas mais influentes do pós-II Guerra Mundial.
                O casal de São João da Madeira é já visto pela comunidade artística nacional como uma lufada de ar fresco no panorama cultural português, em tempos de investimento quase nulo na cultura em geral, e nas artes plásticas em particular.

Paula Rego - Título desconhecido, 1985 

Malangatana - Sem Título, 1975

Kcho - Enséñame la Isla, 1999

Noé Sendas - Unsaid (Lisboa), 2000

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