DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Artigo por: Sofia Lopes
Revisto por: Inês Cardoso


Lugar (ainda) para a reflexão?

            Ao longo da história, os momentos de crise social foram quase sempre períodos em que se privilegia o individualismo, a ânsia de resolução de problemas pontuais, com enfoque em soluções imediatas e, por vezes, pouco ponderadas. 
            No contexto atual que atravessamos, urge questionar se há “tempo” ou lugar para a reflexão filosófica.
            Barry Schwartz, autor do livro “Paradoxo da escolha”, indicia que os seus alunos atualmente estudam “menos”, que as propostas de trabalho que lhe são feitas têm grau de dificuldade menor e são em menor quantidade mas, (espante-se!)
            Tal não se deve à menor capacidade dos alunos, mas sim ao facto dos mesmos lidarem correntemente com questões existenciais bastante complexas e eu tornam todas as decisões fonte de angústia e incerteza. Tal fenómeno paralisa-os e inibe-os diante da realidade que os rodeia.
            Este parece ser um dos obstáculos à reflexão, especialmente à reflexão filosófica que exige um trabalho de dissecação “laboratorial” das ideias, dos conceitos e dos argumentos, por forma a tornar tudo mais claro, ou (espante-se ainda mais!) nebuloso. Ela mais do que certezas insiste nas dúvidas e nas incertezas, não contribuindo, no imediato, para respostas take away.
 Existe um provérbio judaico que afirma “o homem pensa, Deus ri”. Numa frase espelha-se a condição humana: incapaz de partilhar a omnisciência divina o homem utiliza o pensamento como estratégia e tenta, a partir daquilo que o seu Deus ironicamente lhe dá, levar a bom porto a sua existência.
A filosofia é o expoente máximo do exercício do pensamento. Pelas questões que nunca resolve mas persistentemente procura solucionar. Pelos argumentos que cria e sistematicamente revê. Pelas preocupações que nunca abandona e nos definem como seres humanos. Pelas dificuldades que nunca disfarça. Pelas chamadas de atenção que queremos a todo o custo ignorar.
No dia mundial da filosofia, comemore-se o lugar para a dúvida, para a incerteza, para o questionamento, para a crítica. Comemore-se  a condição humana e tal como Kant nos propôs, caminhemos, a partir daí, para a saída da menoridade intelectual a que nos acomodamos pela preguiça ou mesmo pela cobardia.



0 comentários:

Enviar um comentário

 
Raiz Do Jornalismo © 2013 | Designed by Bubble Shooter, adaptado por Bruna Pias | Em colaboração com Colégio Novo da Maia