Artigo por: Sofia Lopes
Revisto por: Inês Cardoso
Lugar (ainda) para a reflexão?
Ao longo da história, os momentos
de crise social foram quase sempre períodos em que se privilegia o
individualismo, a ânsia de resolução de problemas pontuais, com enfoque em
soluções imediatas e, por vezes, pouco ponderadas.
No
contexto atual que atravessamos, urge questionar se há “tempo” ou lugar para a
reflexão filosófica.
Barry
Schwartz, autor do livro “Paradoxo da escolha”, indicia que os seus alunos
atualmente estudam “menos”, que as propostas de trabalho que lhe são feitas têm
grau de dificuldade menor e são em menor quantidade mas, (espante-se!)
Tal
não se deve à menor capacidade dos alunos, mas sim ao facto dos mesmos lidarem
correntemente com questões existenciais bastante complexas e eu tornam todas as
decisões fonte de angústia e incerteza. Tal fenómeno paralisa-os e inibe-os
diante da realidade que os rodeia.
Este
parece ser um dos obstáculos à reflexão, especialmente à reflexão filosófica
que exige um trabalho de dissecação “laboratorial” das ideias, dos conceitos e
dos argumentos, por forma a tornar tudo mais claro, ou (espante-se ainda mais!)
nebuloso. Ela mais do que certezas insiste nas dúvidas e nas incertezas, não
contribuindo, no imediato, para respostas take
away.
Existe um provérbio judaico que afirma “o
homem pensa, Deus ri”. Numa frase espelha-se a condição humana: incapaz de
partilhar a omnisciência divina o homem utiliza o pensamento como estratégia e
tenta, a partir daquilo que o seu Deus ironicamente lhe dá, levar a bom porto a
sua existência.
A filosofia é
o expoente máximo do exercício do pensamento. Pelas questões que nunca resolve
mas persistentemente procura solucionar. Pelos argumentos que cria e
sistematicamente revê. Pelas preocupações que nunca abandona e nos definem como
seres humanos. Pelas dificuldades que nunca disfarça. Pelas chamadas de atenção
que queremos a todo o custo ignorar.
No dia
mundial da filosofia, comemore-se o lugar para a dúvida, para a incerteza, para
o questionamento, para a crítica. Comemore-se
a condição humana e tal como Kant nos propôs, caminhemos, a partir daí,
para a saída da menoridade intelectual a que nos acomodamos pela preguiça ou
mesmo pela cobardia.
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